Jainara Nogueira, de 29 anos, é mãe solteira de quatro filhos. Ela faz parte da estatística de mais de 1,1 milhão de mulheres gaúchas na mesma situação. No Rio Grande do Sul, cerca de 36% das famílias têm mulheres como as responsáveis legais. Desempregada, Jainara conheceu o Mãos de Mãe: um projeto social que capacita mulheres por meio de oficinas de gastronomia para aprenderem a tirar o sustento a partir das receitas ensinadas.

A iniciativa da idealizadora Raquel Grabauska começou em 2021, quando surgiu a necessidade de ajudar mães desempregadas através de ações de assistencialidade. Mensalmente, um grupo de mulheres é selecionado para uma imersão de uma semana na sede do projeto social Cuidado Que Mancha. No decorrer dos dias, elas aprendem receitas simples e fáceis de serem reproduzidas.
– A gente tenta ensinar coisas que elas vão poder fazer em casa. Vão ter farinha, açúcar, ovos, que são ingredientes de fácil o financeiramente. E, depois, transformar isso em realidade de venda – explica Débora Quadros, voluntária do projeto.

As pizzas caseiras que Jainara aprendeu durante sua participação na última edição do Mãos de Mãe têm feito o maior sucesso na Vila Ecológica, onde mora. Além das receitas de cupcake e geleia ensinadas na semana, ela também escolheu o pão para incluir no seu cardápio. Começou vendendo para a família, depois estendeu aos amigos e vizinhos. Hoje, pretende expandir ainda mais a produção.
Na semana do Dia da Mulher, ocorre mais uma edição do projeto. Débora, voluntária desde o ano ado, trouxe seus conhecimentos de confeitaria para compartilhar sua receita de bombom de chocolate para as vendas da Páscoa.

– Meu sonho agora é ensinar outras mulheres o que eu tive que pagar para aprender –, conta a gastrônoma que, além dos doces, faz oficinas de pizza e empadão.
No último dia do projeto, quem retorna à casa para ensinar receitas de pão é uma ex-participante. Flavia Quadros já era cozinheira profissional, quando perdeu o emprego e decidiu participar do projeto.
– Tudo que eu aprendi aqui, eu já sabia fazer. Mas aprendi de uma maneira diferente. Uma ensinou a outra, eu ensinando as outras e a gente foi aprendendo – diz com um sorriso no rosto. Hoje, ela tem sua própria lanchonete, no bairro Santa Tereza, onde vende xis e pastéis para a vizinhança.
Raquel, coordenadora do projeto, explica que uma das ideias centrais é gerar um fortalecimento coletivo através de uma “cozinha terapêutica”. Muitas mulheres buscam a iniciativa para encontrar uma rede de apoio e um momento de troca. Compartilham suas histórias enquanto embalam os bombons recém-feitos na oficina.

– Eu acordo cedo para vir pra cá, porque eu tô feliz de estar participando e conhecer vocês – conta Emily, de 21 anos. Mãe solteira, ela confessa que só gosta de cozinhar quando tem todos os ingredientes e recebeu a validação do restante do grupo, que concordou. A jovem diz estar ansiosa pelo dia do cupcake, afinal, o doce é seu forte na cozinha.
Ao final do projeto, todos os produtos feitos pelas mãos destas mães são vendidos na sede e o valor é revertido para que elas possam seguir suas produções individualmente. Além da capacitação na cozinha, as participantes ganham assistência psicológica, judicial e social.
– Transformar sonhos em realidade através da gastronomia é algo muito surreal – conta Débora, emocionada, ao finalizar sua oficina.
Projeto Mãos de Mãe
Local: Casa Cuidado Que Mancha (Rua Damasco, 162, no bairro Menino Deus)
Informações através do site ou pelo perfil no Instagram @cuidadoquemancha
Para contribuir com o projeto através de doações ou voluntariado, contatar (51) 99684-3352
*Conteúdo produzido por Marina Carvalho