Ela é um alegre encontro ecumênico, como os das festas da minha família.
Falando em família, pela primeira vez um álbum seu reúne todos os seus filhos e também netos. Como foi essa sensação?
Nunca havia conseguido reunir a prole toda. Agora foi diferente. Meus filhos participam do coro, participam de tudo. É uma mistura homogênea, mesmo.
A pandemia de covid-19 atingiu fortemente diversos setores, mas a cultura foi um dos mais prejudicados. Somente agora que os shows estão voltando à sua normalidade, Por exemplo. como foi esse período para você?
Você sabe que existem criadores de todos os ramos da arte, da literatura, da música, do teatro, do cinema, que produzem mais na adversidade. Não é o meu caso (risos). Nesse período pandêmico, fiquei realmente sossegado em casa.
Como referência do samba, como você enxerga o atual momento do gênero no Brasil?
O samba, como dizia o Nelson Sargento (1924-2021), agoniza, mas não morre. Você sabia que, uma vez, ele me disse que fez samba (Agoniza, Mas Não Morre, consagrado na voz de Beth Carvalho, em 1978) inspirado em mim?
Na época, ele me disse: "Martinho, fiz essa samba inspirado em você. Durante um período, o samba esteve fora da mídia. Então, você lançou o disco O Pequeno Burguês (1969) e o samba renasceu. Foi depois disso que escrevi Agoniza, Mas Não Morre". Agradeci ao Nelson, não sabia, mas disse para ele: "Vou te contrariar, o samba nem agoniza". Tudo no Brasil termina em samba, o Brasil é samba. Qualquer lugar que você vai, um evento, algo assim, termina em um bom samba.
Quais nomes da nova geração do samba você acompanha? E quais destacaria?
Dudu Nobre, embora não seja de uma geração tão nova, é um grande nome. Diogo Nogueira está em alta, é muito bom. Mart´nália também. Roberta Sá é uma jovem de muito talento. Tem muita gente boa por aí. E gosto muito do Mosquito, queria chamá-lo pra gravar, mas não deu. Ainda farei algo com ele, ele é ótimo.
O que você conhece da música feita no Rio Grande do Sul?
Gosto muito da música gaúcha. Esses dias, eu estava ouvindo Adeus, Mariana (gravada em 1943 por Pedro Raymundo, artista regionalista falecido em 1973), é muito boa. Um vanerão clássico. Essa música é muito maneira.
E qual o sentimento de ser homenageado no carnaval?
Pois é, rapaz, ser enredo de uma escola de samba em vida é uma honraria fora de série. Acho que não há honraria maior. Ainda mais na minha própria escola, né? Ainda não sei como vou me comportar, falei, esses dias, com o carnavalesco (Edson Pereira), sobre onde eu vou sair, detalhes da apresentação. E ele me disse: “Você sai onde quiser”. Vou me ajeitar até lá. Mas preferia que o Carnaval não fosse agora, em abril (os desfiles no Rio de Janeiro estão programados para os dias 22 e 23). Para mim, deviam deixar para fevereiro do ano que vem, com tudo a favor, calor, verão. Mas, vamos nessa, vai ser maneiro. Essa ideia de me homenagear é antiga, em 2010 queriam que eu fosse o homenageado, mas não concordei, porque era o centenário do Noel Rosa. Aí fiz o samba-enredo, fizemos um desfile bonito.
E tua expectativa? Você está participando de alguma decisão sobre o desfile?
Acho melhor não saber de nada, porque homenagem boa é quando o homenageado não sabe nada, não é? Homenageado colaborar não é legal. Porém, se você for a um barracão, tem uma ideia de como será o desfile. Mas só uma ideia. Na avenida, com as luzes, toda aquela estrutura, movimentos, tudo se transforma. Vai ser legal.
Mistura homogênea será seu último disco? mesmo?
Daqui para a frente, pensando no formato atual do disco, creio que não lançarei mais. O ideal não é mais gravar um álbum inteiro.