Tem um esporte que é parecido com o surfe, mas não se aproveita só da água: também leva em consideração o vento. É o kitesurf, que vem ganhando cada vez mais adeptos. Com os pés na prancha e as mãos segurando a pipa, a pessoa não só desliza, mas também pode voar.
O kitesurf é feito no mar, mas também na lagoa, como a do Palmital, em Osório, onde a arquiteta Aline Hugentobler, 43 anos, toma aulas com Viviane Rodrigues dos Santos, a Vika, da escola Mangaviento. A atividade se tornou uma opção quando, forçada pela pandemia, ou a frequentar mais a casa de veraneio da família para fugir das aglomerações de Novo Hamburgo, onde mora com marido e filhos.
Como Osório é repleta de lagoas, além de ventar muito, Aline logo encontrou seu hobby.
– O vento, aqui, predomina. É a cidade dos ventos. Por isso, o kitesurf é uma forma de ar o tempo – afirma.
Iniciante no esporte, ela só entra na água ao lado da instrutora. Ainda está aprendendo a prestar atenção no vento para fazer as manobras com a pipa, que fica presa à cintura por um trapézio. Se faz um comando muito brusco com as mãos, cai de bunda na água, o que também pode ser divertido. Mas já conseguiu fazer um salto no ar, que é quando consegue "voar", uma etapa avançada do kitesurf.
– Foi muito bom, mas eu fiquei nervosa. É uma mistura de medo com sensação boa – relata Aline.
Não é necessário ter equipamento para se iniciar no kitesurf - escolas como a Mangaviento fornecem tudo para quem deseja começar. Aline quis comprar o seu, para dividir com o companheiro, o professor Luciano João Wiest, 39 anos. O que é importante, assim como em outros esportes aquáticos, é ter um bom relacionamento com a água. Quando ganha um novo aluno, Vika logo vai pedindo para ele mergulhar a cabeça, para avaliar sua reação.
Entender que não se domina nem a água, nem o ar, mas que se pratica a favor deles, é uma atitude fundamental.
– O kitesurf te ensina a aceitar a natureza. Se não tem vento, tu não vai velejar –avisa Vika.
O desejo de Aline é ganhar mais experiência para começar a praticar sozinha, sem o receio de quem está começando, e deslizar por horas e horas na lagoa.
– Tu entra no kitesurf com medo. Aos poucos, vai perdendo – garante.
Deixar-se conduzir pela força do vento é a condição de quem faz vela, que pode ser praticada no mar ou na lagoa. Embora não demande tanto do corpo, como outros esportes aquáticos, uma lufada mais forte exige muita agilidade e força nos braços para colocar o barco na direção correta.
Ficar distante da terra firme, velejando somente com o barulho das águas, também pode ser inspirador. O psicólogo Roberson Rosa, 36 anos só conhecia a navegação pelos livros de Amyr Klink, de quem é fã. Ao mudar-se de Porto Alegre para Torres durante a pandemia, ficou deslumbrado com a diversidade de lagoas do litoral gaúcho. Pensou que seria adequado começar em águas mais tranquilas.
É na Lagoa da Pinguela, em Osório, que toma lições com o professor Adelandre de Barcellos Linhares, o Landi. Está aprendendo coisas que jamais aprenderia na rotina da cidade, como ouvir o vento, entender sua direção, além de se deixar ficar sobre a água, em estado de contemplação.
Mas, entre todos os ensinamentos da vela, o que mais intriga é compreender que nem tudo está sob seu controle.
- Com a vela, tu lida com o imprevisível. Tu sai da zona de conforto, não sabe, por exemplo, quando vai entrar uma rajada de vento. Até tem aplicativos que indicam, mas lidar com o imprevisível é o que me interessa - explica.
Um ponto que soma a favor da vela é que, no caso dos barcos menores, que não possuem motor, não há qualquer consumo de gasolina, o que preserva as águas. Também não é para quem prioriza adrenalina: para velejar, o interessante é desacelerar. Até famílias podem ear de veleiro, mesmo que não quiserem aprender a navegação.
– Um amigo meu, engenheiro naval, dizia: "a pessoa que anda de lancha quer chegar em algum lugar. A pessoa que veleja não está preocupada só em chegar. Ela quer curtir toda a viagem" - reflete Landi.