Ela respondeu, com um sorrisinho: "Nããão!"

O tom dela foi até meio engraçado, como quem diz: "Não, dinda, nem foi nada". 

Naquele momento, me lembrei de novo do meu tempo de escola. Voltei para aquele dia em que todo mundo entrava para a sala correndo após ouvir o sinal tocar. Eu fiquei um pouco para trás, caminhando calmamente. Minhas amigas mais próximas me acompanhavam e me davam mais atenção do que o normal. Mas tinha um motivo: eu estava com a perna enfaixada e, por isso, tinha que ir mais devagar. Não deu nem para calçar o tênis, então, coloquei uma pantufa no pé que estava com ataduras para conseguir apoiá-lo levemente no chão. 

Ao entrar na sala, eu era o centro das atenções. Minha professora perguntou o que tinha acontecido. Os outros colegas vieram falar comigo para saber se estava tudo bem. Resumindo, fui o assunto da turma. Na hora de responder, eu também dava um sorrisinho e dizia: "Não, tá tudo bem!"

Mas o que teria acontecido com a pequena Kelly para estar com a perna inteira enfaixada? Como ela se machucou desse jeito? Eu poderia contar aqui que me machuquei em alguma aventura, brincadeira, praticando um esporte, porque sim, eu jogava vôlei, futebol, taco, surfava… Seriam muitas as possibilidades para aparecer daquele jeito, com a perna quebrada. 

A verdade é que, com um tom meio engraçado - e até constrangido - venho dizer a vocês que nem foi nada. É que, quando criança, eu gostava de me enfaixar com as ataduras do futebol do meu pai. Não tinha fratura, não tinha lesão, não tinha um arranhão. Porém, eu era uma criança que gostava de chamar a atenção e amava fazer isso com as tais ataduras. Não me perguntem o porquê, não faço a menor ideia. Como meus pais nunca me impediram, por acharem que era mesmo uma grande brincadeira, segui fazendo. Volta e meia, enfaixava mão, braço, pé, dedos e ía pra escola. Um ou dois dias depois, voltava sem nada, já estava “curada”. Me divertia muito com isso. Vai entender?

No fundo, no fundo, eu acho que, na imaginação de toda criança, sempre tem algo meio mirabolante. Uma história, uma brincadeira, um roteiro que faça dela um grande personagem de algo que ela queira viver. E a infância é o momento de deixar isso tudo acontecer, apenas porque é divertido. Nós, adultos, condicionamos tantos momentos, dizemos tantos “não pode”, “não faz”, “não deixo” para algo que é só coisa de criança. Por que não? Essa Kellyzinha sapeca da foto concordaria com essa teoria.

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