O impacto da tecnologia na vida e nos negócios nos próximos 30 anos será o tema que norteará as conferências do Fronteiras do Pensamento. Maria Homem, por sua vez, trará em sua fala a abordagem da tecnologia e subjetividade, por meio de cinco pilares: olhar, pensamento, corpo, afetos e poder. Sobre o comportamento dos indivíduos diante do mundo virtual, a autora faz uma reflexão sobre o olhar do outro sobre a nossa vida.
— Antes a gente tinha uma ideia que Deus tava fora (de nós) e era uma ideia abstrata, então ele me olhava. Onipotente, onisciente e onipresente. Quando a modernidade diz "vamos fazer o controle, a legislação dos comportamentos", os costumes vão entrando cada vez mais na lei dos homens, não só nos sacerdotes [...] É o vizinho, a câmera de vigilância, o outro, o Estado que vai te legislar. O que a gente está fazendo nesse terceiro momento histórico lógico é que a gente está oferecendo a nossa vida e a nossa intimidade para o olhar do outro. A gente que está expondo e dando de graça. Eu to dizendo como é minha relação, o que eu acho, o que eu penso, o que eu como, como eu voto, qual a minha opinião sobre tudo, até sobre coisas que eu não entendo.
Esse fenômeno é definido pela intelectual como "a derrota da filosofia e a vitória da doxa". Ela relembra o início da virada filosófica, quando a lógica, o silogismo e a matematização chegam para, como ela define, "organizar o reino da opinião". O que acontece hoje em dia é o contrário:
— É difícil largar o osso do narcisismo. A gente pega um lugar de potencia imaginaria e diz "vamos lá". Toda essa nossa movimentação hiper egoica, inflacionada, é uma defesa desesperada para esse novo momento que a gente está sendo obrigado a se deparar com o nosso lugar ínfimo diante de tudo.
Na entrevista, Maria Homem ainda destacou sobre a dificuldade de ouvir o outro:
— O mais difícil tá sendo a gente poder escutar o outro, deixar reverberar no eu e, de alguma forma, poder se conhecer. Porque a gente põe o dedo? Por que a gente não escuta? Por que a gente acelera? Porque ta muito difícil ter a relação com o outro que poderia revelar coisas de mim mesmo. Como se fosse um casal dá para visualizar melhor. É como se você estivesse o tempo todo na briga, na DR, apontando o dedo, acusando. Calma. Deixa o outro falar, deixa você falar, se escuta, escuto outro. Somos dois seres, dois sujeitos, vamos peitar amorosamente de preferência, se permitir brotar aqui dois seres.A gente está sofrendo muito com esse outro e com a gente mesmo.
A temporada 2022 do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento debaterá o impacto da tecnologia na vida e nos negócios nos próximos 30 anos. Grandes pensadores da atualidade compartilharão ideias sobre ciência, tecnologia, evolução, inovação, humanidade e sociedade digital.