Psicanalista, doutor em Psicologia Social (UFRGS), membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa)

Reconhecer as nossas humanidades requer o cuidado com a vida, o respeito aos mortos e o direito ao luto. Apesar da obviedade da afirmação, curiosamente são valores que precisam ser lembrados. Especialmente, em tempos de radicalizações, falta de empatia pelo sofrimento alheio e ódios, que parecem situar o esfacelamento da virtude política, torna-se imprescindível zelar pela dignidade humana em suas pluralidades. 536y6f

A covid-19 expôs de forma dramática, além da falta de preparação para a gestão da crise, os desafios para encontrar novas formas de solidariedade. Não é a primeira epidemia da humanidade, tampouco será a última. O que ela atualiza do mal-estar dessa época? As respostas são múltiplas, de modo que recorto apenas um aspecto dessa questão, presente desde o início da pandemia: a banalização da morte. Algumas imagens são ilustrativas, a começar pelas eatas promovidas pelos defensores de que a economia não podia parar – ainda que já contássemos com milhares de óbitos – até a sua expressão máxima, quando, em plena Avenida Paulista, vimos várias pessoas dançando, cantando e sorrindo em volta de um caixão, convocando a abertura do comércio.