Reflexos na vida adulta

Para o pediatra Ricardo Halpern, da área de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, unir família e natureza é a combinação perfeita para a felicidade dos pequenos.

— A criança tem como postulado básico do desenvolvimento sua capacidade de formar relacionamentos estreitos e seguros e também de aprender a explorar o ambiente. O produto dessas interações é uma infância feliz — diz o médico.

Marco Favero / Agencia RBS
Convívio na natureza ajuda no desenvolvimento

A ausência dessas experiências pode ter consequências diversas, não só na infância, mas também na vida adulta. O convívio favorece a noção de corpo, de distância, de limite e a falta de brincadeiras pode resultar tanto em limitações psicomotoras — adultos que não sabem correr ou pular porque não tiveram brincadeiras corporais na infância — até outros transtornos mais graves, que muitas vezes se confundem com o espectro autista, devido ao isolamento social.

Nos Estados Unidos, com base em um questionário respondido anualmente por cerca de 6 mil pessoas, por telefone, pesquisadores da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health encontraram relações significativas entre boas experiências na infância e saúde mental na vida adulta. Entre os que relataram de seis a sete vivências felizes na infância, a chance de desenvolver depressão ou outro sintoma de doença mental nos meses anteriores à pesquisa foi 72% menor, em comparação com quem não relatou até duas experiências positivas. Para três a cinco vivências positivas, o risco à saúde mental se revelou 50% menor.

A psicóloga e psicanalista Andrea Ferrari, professora do Departamento de Psicanálise e Psicopatologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), recomenda cuidado com a expressão "feliz", não só porque ela implica uma relação com outra experiência, para que se possa valorar uma vivência como feliz ou não, mas também pela cobrança social de felicidade permanente, que é inatingível.

— Em todos os momentos da vida, inclusive na infância, viver exige istrar frustrações. Permitir que as crianças tenham experiências sozinhas e vivam suas descobertas e frustrações faz parte do desenvolvimento — pontua a pesquisadora.

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Recomendação é de pelo menos uma hora de brincadeiras ao ar livre

Importância dos vínculos

Em linhas gerais, Andrea destaca que a satisfação, principalmente na primeira infância, está ligada a sensações como acolhimento, segurança e confiança. Por isso, a participação da família nas horas livres é fortemente associada a bem-estar pelos pequenos. Em 2014, a SBP e o Instituto Datafolha ouviram 1.525 crianças brasileiras de quatro a 10 anos, em 131 municípios. Na presença dos pais, elas foram interrogadas sobre o que mais gostavam de fazer quando não estão na escola e foram expostas a situações sobre as quais deveriam manifestar seu estado de alegria ou tristeza, usando cartões com "carinhas". Uma das conclusões da pesquisa foi que não é brinquedo que faz uma criança feliz, e sim brincar, de preferência, com a família e os amigos: 47% dos entrevistados disseram ficar tristes ou muito tristes quando brincam sozinhos.

— Mas é importante que a responsabilidade pela promoção desse bem-estar não recaia só sobre o cuidador, o Estado também tem responsabilidade. O adulto precisa ser cuidado para poder cuidar — destaca Andrea, pontuando discussões não só sobre segurança, mas também sobre carga horária de trabalho e questões de gênero.

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Valentina tem até uma árvore favorita na Redenção

Criar redes é uma das saídas para driblar a rotina ocupada e proporcionar atividades de lazer ao ar livre para os pequenos. Os pais da Valentina, Jaqueline Maciel e Celito Diel, acompanham a filha com um grupo de colegas durante a brincadeira no parque na saída da escola, até que os demais possam sair do trabalho para buscar os pimpolhos. Bióloga, Jaqueline criou um projeto, o Sabiá Laranjeira, para acompanhar crianças e seus familiares em eios mensais pelos parques de Porto Alegre.

— Percebi que alguns amiguinhos da Valentina tinham medo de tirar os tênis e pisar na grama. Se você observar o parque aos finais de semana, vai ver que as famílias estendem suas cangas, mas não interagem com o parque, nem entre si, está cada um de olho numa tela — observa Jaqueline.

Estabelecer vínculos com as áreas verdes, segundo a bióloga, a pela relação com o espaço, mas também pelas memórias afetivas que ele traz, daí a ideia de promover piqueniques para explorar a natureza — em família. Mãe do Rafael, de cinco anos, e da Anita, de oito, a fonoaudióloga Valéria Delabary compartilha do eio com a criançada.

— Quando a gente vem ao parque com eles, também é, para nós, um momento de conexão, com nossos filhos e com a natureza — conclui Valéria.

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Criar relacionamentos seguros e explorar o ambiente é a combinação ideal para uma infância feliz

Orientações para as famílias:

Fonte: Manual de Orientação - Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes

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