Apesar do nível de inconsciência dos vieses, especialistas indicam que eles podem ser controlados. Porém, não há uma maneira simples de adormecê-los: evitar o seu poder a por compreendê-los.
Nos Estados Unidos, exercícios mostraram que a participação de mulheres em orquestras aumentou depois que as audições começaram a ser feitas às cegas. Antes, pelo viés cognitivo de que eles tocam melhor do que elas, os palcos eram preenchidos quase que totalmente por homens.
Consultor de agências da ONU com pesquisas nas áreas de psicologia social e da saúde, Angelo Brandelli tem aplicado o comportamento dos vieses nos estudos sobre preconceito. Para ele, os vieses podem ser mais perigosos do que imaginamos.
Pelo viés da disponibilidade, por exemplo, as pessoas influenciam os seus julgamentos pelo que lhes salta à mente mais rápido. E aquelas que tem um pensamento negativo enraizado sobre a população negra são mais propícias a ter atitudes preconceituosas sem nem perceber, como escolher um branco ao invés de um negro para uma vaga de emprego na sua empresa.
— O ideal é termos uma educação que priorize os direitos humanos, para nem termos essa informação disponível no cérebro — contemporiza Brandelli.
Há ainda estudos que mostram que médicos tendem a prescrever tratamentos de saúde piores para portadores de aids, doença a qual se atribui responsabilidade ao paciente pela contração. E como evitar? Para Brandelli, basta estar ciente de que, sempre que tomamos uma decisão, existe esse componente automático que não controlamos que pode nos desviar da melhor decisão a ser tomada:
— Temos de estar cientes que eles existem, usar estratégias para reduzi-los e nos educarmos para perceber que ele pode ser usado muitas vezes contra os nossos próprios interesses. A sociedade tem que se mobilizar para usar isso a favor da coletividade, e não contra.
Os vieses também podem ser usados na política. Em 2010, o Reino Unido tornou-se o primeiro país a ter no governo um departamento especializado na ciência do comportamento para o desenvolvimento de políticas públicas. Por lá, os britânicos descobriram que os contribuintes tendem a não atrasar o pagamento de seus impostos quando sabem que os vizinhos os pagam em dia.
O ex-presidente americano Barack Obama também chegou a aplicar os vieses cognitivos em um escritório vinculado à Casa Branca. Em setembro de 2015, publicou decreto com diretrizes para que os órgãos do país usassem o enfoque comportamental em suas políticas públicas e criou o Time de Ciências Comportamentais e Sociais. É que, durante a campanha, um grupo de profissionais autodenominados cientistas comportamentais descobrira que era melhor responder “Na verdade, Obama é cristão”, do que “Não, Obama não é muçulmano”, às falsas alegações contra o democrata.
Uma dica para medir o impacto dos vieses, segundo o consultor de empresas Eduardo Ferraz, é avaliar o grau de sucesso da nossa vida:
— Basta olhar os resultados. Se 95% do que você faz está dando certo, você tem razão. Mas, se está dando mais errado do que certo, pergunte aos outros. Eles sabem. É muito mais fácil perceber o viés do outro do que avaliar os seus próprios.
A verdade é que nunca perderemos os nossos vieses. Segundo Fabrício Moulin, o simples fato de reconhecer que estão impregnados em nossos comportamentos representam um o na direção de mitigá-los:
— Precisamos entender que todos temos, que permeiam toda a nossa percepção e prestar atenção no quanto eles nos influenciam para termos um filtro mais leve e menos impregnado do mundo. Em resumo, para sermos o mais imparciais possíveis.
Lista foi elaborada por uma organização internacional, a School of Thought