Elaine Terceiro, psicóloga e consultora sênior de Diversidade e Inclusão da Mais Diversidade, de São Paulo, ressalta a importância da adoção do critério da diversidade pelas organizações:
— As empresas se deram conta de que a diversidade e a inclusão agregam valor para o negócio, seja de que segmento for. A pluralidade das pessoas traz resultado, melhora o clima, gera inovação e criatividade. Um ambiente de pessoas homogêneas não tem ideias novas, acaba todo mundo pensando de forma muito parecida. Com a diversidade, você cria soluções novas. Um ambiente de trabalho com pessoas que podem se expressar têm menos absenteísmo (faltas), menos turnover (rotatividade). A produtividade melhora.
A multiplicidade de perfis no que se refere a orientação sexual e identidade de gênero também gera mais lucro. Citando dados de uma pesquisa da consultoria norte-americana McKinsey & Company, Elaine explica que companhias que prezam e colocam em prática a diversidade têm mais chance de retorno financeiro do que a média de mercado.
Ser parte de uma minoria social não faz diferença para você ser ou não contratado. As suas competências como ser humano é que serão avaliadas
MICHELLE BREA SOARES
Engenheira sênior de e
— As pessoas que conseguem falar sobre sua orientação em um ambiente que tem segurança psicológica são até 35% mais produtivas. Esses funcionários têm mais criatividade, velocidade de entrega, soluções mais inovadoras — comenta a consultora.
— A pessoa que não fala se retrai, se isola, pode ter agravamento no quadro emocional, não consegue ter concentração para o trabalho, não consegue se dedicar — enumera.
Atuante em prol da diversidade dentro e fora da organização, Michelle está habituada a falar sobre sua história. Ela acredita que o processo foi muito bem conduzido pela empresa onde estava à época de sua transição. Um psicólogo e a equipe de Recursos Humanos (RH) explicaram a situação pela qual ela estava ando aos gestores. Depois de 10 meses de preparação, e quando a transformação na esfera pessoal já havia ocorrido totalmente, chegou o chamado Day One ("dia um", em inglês) no trabalho: Michelle começou a utilizar crachá e conta de e-mail com o nome que havia escolhido. Ninguém nunca a chamou pelo nome antigo, mas alguns colegas lhe confidenciaram que ainda a viam como a pessoa de antes.
— Costumo dizer que todos os privilégios que conquistei foi com a sociedade me vendo como um homem, e isso facilita bastante. Hoje, quando já tenho os privilégios conquistados, ser uma mulher trans não me impossibilita de nada. Mas ser uma mulher trans (desde mais cedo) tornaria tudo mais difícil — reflete.
Na Dell Technologies, em Eldorado do Sul, o consultor de RH William Pinheiro dos Santos entrou no programa Pride ("orgulho", em inglês) para conhecer mais sobre o tema. William não é LGBT+, mas seu interesse nasceu a partir das vivências em família: seu irmão é homossexual.
— Eu era extremamente ignorante no assunto. Abracei tanto a causa, me engajei tanto, aprendi tanto, que acabei aumentando minha responsabilidade — conta William, hoje líder do Pride em todos os escritórios da Dell no Brasil.
William é o que se chama de "aliado" da causa — pessoas que não são LGBT+, mas que também batalham pela disseminação de informações corretas e pela conscientização do público em geral. O consultor acredita que os benefícios do tempo que dedica à tarefa, em eventos dentro e fora da empresa, extrapolaram o âmbito profissional.
— Me tornei um irmão muito melhor. Quando falo de diversidade e inclusão, digo que quero ser, para outras pessoas, o irmão que não fui para o meu irmão. É difícil conseguir entender o sofrimento que não faz parte da sua realidade — afirma William.
Esta reportagem foi dividida em duas partes. Veja neste link como uma empresa pode se abrir para a diversidade