Manoela, 11 anos, já sabe exatamente o que esperar do próximo ano letivo. Filha de uma professora, a futura estudante do 6º ano do Ensino Fundamental tem consciência de que deixará o lugar seguro de ter só uma pessoa como referência na frente da classe e ará a ter de se acostumar com vários docentes explicando as diferentes matérias.
Com isso, não aumenta só o número de cadernos e de compromissos: muda também o ritmo de aprendizado – cada vez mais dependente da sua própria iniciativa –, a variedade das tarefas, a duração das aulas.
– Em alguns momentos, ela demonstra uma certa ansiedade, um certo medo. Mas também fala que vai conseguir superar isso. “É como eu fazia lá no quinto (ano)”, ela diz, então acha que vai ser semelhante – afirma a mãe de Manoela, Josânia Marcos.
Também entre os amigos, a expectativa é grande. Isso porque, no colégio particular onde ela estuda, a turma única do 5º ano do Ensino Fundamental se divide em várias outras na agem dos Anos Iniciais para os Anos Finais. Manoela vai continuar na mesma escola, então ainda verá os amigos por lá, mas já sabe que o contato não será mais o mesmo durante o período de aulas.
Para a mãe da menina, uma das principais mudanças nessa transição é a necessidade de os estudantes se organizarem melhor: com tantos professores e disciplinas diferentes, fica bem mais difícil anotar todos os compromissos em um só caderno. E isso, entende Josânia, é um grande o rumo ao desenvolvimento de maior responsabilidade e autonomia.
Ingressar no Ensino Médio, a fase final da educação básica no Brasil, é vislumbrar a vida depois da escola. ado o 3º ano – ou mesmo antes disso –, para muitos estudantes será preciso decidir que caminho seguir: se buscar uma graduação é o ideal, se ingressar logo no mercado de trabalho é melhor, se fazer um intercâmbio é o mais adequado...
Para a professora universitária Giovana Dalmás, a mudança do 9º ano do Ensino Fundamental para o 1º do Ensino Médio é uma das mais marcantes da educação. E é justamente por essa etapa que o filho, Davi, está ando agora.
– Ele entra em uma fase em que as escolhas am a ser dele – destaca Giovana. – A gente sempre procurou enfatizar para o Davi que a vida é construção de autonomia, de uma capacidade de se orientar por si mesmo e se responsabilizar por suas atitudes e escolhas. O que se reflete não só na troca de um ano para o outro, mas também nas mudanças da idade cronológica pelas quais ele está ando.
A proximidade do vestibular, do Enem e a perspectiva da escolha de uma carreira tomam conta das conversas entre os colegas. E o papel do estudante como responsável pela sua trajetória escolar a a ficar mais marcado, com os pais assumindo papel de apoio e também de autoridade, no entendimento da professora.
Giovana destaca também que o aluno, nesse momento de transição, precisa ficar ainda mais preparado para as frustrações que vão acompanhar sua vida, especialmente conforme for necessário desapegar mais e mais dos pais.
Desde que as escolas aram a adotar o 9º ano do Ensino Fundamental – o que começou na rede pública em 2006 e, na rede privada, principalmente, a partir de 2008 –, será que o aumento da duração do ciclo educacional representou maior preparação e amadurecimento para os estudantes, como se esperava?
– Penso que as questões de maturidade têm relação com o desenvolvimento emocional e cognitivo e, como cada pessoa é única, é difícil generalizar. Mas, em todo caso, é preciso desenvolver a empatia, colocando-se no lugar destes adolescentes e aprendendo com eles. Toda idade tem a sua beleza e deve ser vivida plenamente, sem antecipações desnecessárias. Tudo a seu tempo – destaca Dalila Backes, professora de Pedagogia da Feevale.
Fonte: Dalila Inês Maldaner Backes, professora de Pedagogia da Universidade Feevale, e Maria Waleska Cruz, coordenadora pedagógica geral do Colégio Santa Inês, em Porto Alegre