Mercado reprimido

 — O Brasil tem hoje uma demanda reprimida na área, isso falando apenas de medicamentos — afirma Alan Vendrame, coordenador do curso de Direito do Ibmec e doutor em Saúde Pública pela Universidade de Connecticut. — Uma série de doenças pode ser beneficiada pelo uso de medicamento à base de maconha. Há pesquisas científicas aos borbotões que comprovam eficiência principalmente em doenças crônicas.

O custo do processo produtivo, segundo ele, é baixo.

— Um grama de óleo de maconha custa R$ 3 para o fabricante, se for cultivo próprio. Isso explica os altos índices de rentabilidade do mercado — diz Vendrame.

— Nenhum outro investimento apresenta rentabilidade tão alta — acrescenta o advogado Caio dos Santos Abreu, da Entourage Phytolab, de pesquisa e produção de medicamentos desenvolvidos a partir de substâncias de cannabis, de Valinhos, interior de São Paulo.

— Em três anos, a Entourage valorizou mais de 30 vezes — diz Abreu.

Ou seja, uma média de dez vezes ao ano, como estimam os sócios da VerdeMed.

Histórico

Abreu despertou para as propriedades terapêuticas da maconha, quando a mãe dele teve câncer. A vaporização da erva ajudava a amenizar as dores e a falta de apetite provocados pela doença. Em 2009, ela faleceu.

Seis anos depois, a Anvisa tirou o CBD da lista de psicotrópicos proibidos. Nessa época, Abreu teve a ideia de montar uma empresa de pesquisa. Conseguiu um sócio de peso, a canadense Canopy Growth, fundada em 2014 e hoje líder mundial do setor de maconha medicinal. A empresa, que tem ações negociadas na Bolsa de Nova York e está avaliada em mais de R$ 50 bilhões, investiu US$ 700 mil na brasileira. No mês ado, um investidor brasileiro aportou mais US$ 2 milhões.

Paralelamente, a canadense anunciou a abertura da Canopy Latam, que pode vir a ser a maior empresa de produção e distribuição de medicamentos de maconha. Comandada pelo brasileiro Antônio Droghetti, o braço latino-americano começou as atividades no Chile e na Colômbia, mas também está de olho no potencial do mercado brasileiro.

"Chá a base de canabidiol"

Os irmãos mineiros Thiago e José Felipe Carneiro, ambos de 36 anos, levaram a experiência adquirida no mercado de cerveja artesanal brasileiro para a Califórnia, onde montaram uma empresa de chás em sachê à base de canabidiol, substância extraída do óleo da maconha. Investiram US$ 3 milhões no projeto.

Em 2015, os dois haviam transformado a tradicional cervejaria de chope da família em uma marca artesanal jovem de sucesso. Naquele ano nascia a Wäls, empresa que arrebatou o mercado de bebidas nacional e foi comprada pela Ambev. Os sócios não divulgaram o valor da negociação, mas a empresa faturava cerca de R$ 9 milhões por ano.

No início de 2018, a Califórnia, sexto Estado americano a legalizar a cannabis, autorizou a venda de produtos da maconha para pessoas com mais de 21 anos. Quando isso aconteceu, já havia 50 empresas recém-licenciadas esperando para atender o mercado. Nesse movimento, os irmãos Carneiro começaram a montar a nova fábrica de chás.

— Até o fim do ano lançaremos nossos produtos — afirma José Felipe. — Está tudo pronto. Mas ainda faltam licenças. Algumas custaram US$ 300 mil. Nos Estados Unidos, a fiscalização é dura.

Equilíbrio

— Apesar de muita polêmica, a experiência no Estado do Colorado mostra que a regulamentação tem um impacto positivo na economia e na saúde pública — diz Alan Vendrame, coordenador do curso de Direito do Ibmec e doutor em Saúde Pública pela Universidade de Connecticut.

— Em 2014, ano da legalização, a arrecadação dos setor foi de US$ 50 milhões. O valor superou o teto que o governo poderia recolher, sem restituir aos contribuintes. Então, cada cidadão recebeu de volta cerca de US$ 10 — conta o professor.

No Colorado, 15% da arrecadação vai para a educação, 10% para a saúde pública, e o restante para o erário.

— Esse mercado ainda está muito desbalanceado. E, por isso, as cifras são tão altas — acrescenta Fábio Lampugnani, da UPF Consulting, contratada para levantar capital para a VerdeMed, empresa de sócios brasileiros que está entrando nesse mercado.

— Não se trata de uma bolha, mas de um mercado ainda não explorado que tende a se equilibrar — afirma.

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