– Havia outros estudos sobre amamentação quando realizei a pesquisa, mas esse foi o primeiro que documentou a importância da amamentação exclusiva, pois isso não era um fato reconhecido. Na hora em que o estudo é concluído, não sabemos o verdadeiro valor, só quando a o tempo é que sabemos sua real utilidade. E hoje vemos que as políticas públicas foram influenciadas pela pesquisa ao longo do tempo – diz Victora.
Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Unicef, assim como a maioria dos governos do mundo, recomendam que as crianças devem fazer aleitamento materno exclusivo até aos seis meses. Ou seja, até essa idade, o bebê não deve receber nenhum outro alimento complementar ou bebida. Mesmo com a inserção de outros alimentos, a recomendação é continuar amamentando até o segundo ano de vida ou mais.
Natural de São Gabriel, o médico e professor universitário formou-se em Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1976. Ele conta que fez o período de residência em uma unidade de saúde na Vila São José, em Porto Alegre, e ficava impressionado com o fato de que, mesmo recebendo tratamento, as crianças voltavam a ficar doentes.
– Eu via as crianças retornando ao posto de saúde desnutridas e com diarreia. Na época, a amamentação durava três meses, era muito curta. O moderno era usar leite em pó. Foi quando comecei a me interessar pela questão da amamentação e vi que poderia ser uma forma útil e barata de prevenir doenças. Resolvi, então, estudar para ser epidemiologista e fazer pesquisas para prevenir doenças.
Após terminar o doutorado na Inglaterra, o médico foi contratado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), onde criou um programa de pós-graduação em epidemiologia. Professor por mais de 30 anos, atuou também como docente convidado em universidades fora do Brasil como Harvard e Johns Hopkins, ambas nos Estados Unidos. Aposentado desde 2010, segue trabalhando na área de pesquisa e orientando alunos em suas dissertações de mestrado e teses de doutorado.
Os cientistas que recebem o prêmio costumam ser considerados candidatos em potencial ao Nobel. Entre os laureados do Gairdner, 84 foram posteriormente agraciados pelo Nobel de Medicina ou Fisiologia. Mesmo assim, o médico não demonstra esperança de ser agraciado.
– É um dos prêmios mais conhecidos do mundo e muito concorrido. Fico muito feliz em ter sido lembrado fora do Brasil mas não acho que o tema seja contemplado no Nobel.