— Esse foi um mortal — Lamb avisa a sua secretária quando Standish vai entrar no escritório.
Em outras ocasiões, o sujeito é sorrateiro.
— Meu Deus, você é nojento! — pragueja Diana Taverner (Kristin Scott Thomas, indicada ao Oscar de melhor atriz por O Paciente Inglês), a número 2 na hierarquia do MI5, ao ser surpreendida por um ataque de gás durante um encontro clandestino com Lamb.
Cenas assim equilibram-se com momentos de drama e suspense, sobretudo a partir do sequestro de um universitário britânico parente de uma autoridade paquistanesa, em uma ação perpetrada pela organização de extrema-direita Filhos de Albion — é essa a trama da primeira temporada. (A quarta estreia em 4 de setembro, e uma quinta já está garantida.)
Na segunda, baseada no livro Dead Lions, tudo começa com um veterano ex-agente reconhecendo e seguindo o homem que o torturou durante a Guerra Fria, em Berlim, apenas para morrer em um ônibus devido a um aparente ataque cardíaco. Jackson Lamb decide investigar o caso, que envolve uma conspiração russa. A história conta com participações de Sophie Okonedo e Rade Serbedzija.
A terceira temporada, que talvez seja a melhor, é inspirada em Real Tigers. Tem início em Istambul, na Turquia, onde dois agentes, Sean Donovan e Alison Dunn, são amantes. Ele tenta pegar um arquivo confidencial que ela roubou da embaixada britânica, e a briga do casal termina de maneira trágica — não vale a pena avançar na sinopse, para evitar spoilers, mas o enredo possibilita discussões morais e políticas, cenas de ação bem coreografadas e ótimas tiradas cômicas.
Portanto, Slow Horses é como se fosse uma versão quase humorística de 24 Horas (2001-2010), o seriado no qual o agente Jack Bauer personificou o sentimento dos EUA após o 11 de Setembro e que bebeu da cultura do medo promovida pelo presidente George W. Bush. Tanto é que o principal roteirista na adaptação dos livros de Mick Herron, o inglês Will Smith, traz no currículo vários episódios de duas séries que misturavam comédia com política: The Thick of It (2005-2012), que satirizava os bastidores do governo no Reino Unido, e Veep (2012-2019), sobre a vice-presidente estadunidense.
Como nas obras de Le Carré e como, por exemplo, na série The Office (2005-2013), há bastante foco no cotidiano dos personagens, agentes secretos que podem ser atrapalhados, ambíguos, teimosos, chatos e até covardes, ainda que com lampejos de coragem. Os diretores (incluindo James Hawes, que assinou Hated in the Nation e Smithereens na antologia Black Mirror) dão holofote a praticamente todo o elenco. Mas o palco é mesmo do duelo de frieza, sarcasmo e línguas ferinas ofertado por Kristin Scott Thomas e sobretudo Gary Oldman. Não à toa, o ator de 66 anos, vencedor do Oscar, do Bafta, do Globo de Ouro e do SAG Awards na pele do primeiro-ministro Winston Churchill de O Destino de uma Nação (2017), já declarou que Jackson Lamb pode ser seu último personagem.
Em entrevista ao site Deadline, Oldman, que também foi indicado ao prêmio de melhor ator da Academia de Hollywood por Mank (2020), disse se sentir sortudo e muito feliz por protagonizar Slow Horses e por vivenciar pela primeira vez o sentimento de família nos bastidores de uma série, algo que não se experimenta tanto no cinema. E acenou com a possibilidade de se aposentar depois de encarnar Lamb em quantas temporadas forem possíveis (os personagens criados por Herron já estrelaram 11 livros):
— Depende de todas as pessoas grandes no andar de cima e do público e, obviamente, da audiência e do que a Apple diz. Mas, sim, eu poderia me ver interpretando Jackson pelos próximos anos. Absolutamente. Lamb é um personagem icônico. Então, se for para sair com um estrondo, a aposentadoria está no horizonte. Sim. Eu posso ver isso.