A tragédia de Shakespeare é a base da história. Esta versão, além de se ar nos tempos de hoje, se aprofunda um pouco mais nas relações dentro da família. Os conflitos dos personagens, muitas vezes internos, e a necessidade que sentem em externalizá-los, são prejudicados pelo momento em que a história se a: o curto período entre o Natal e Ano Novo. É uma história linda e que merece ser vista!
Os bastidores de Verona também contam com uma história de amor que, infelizmente, terminou de forma abrupta: a morte, em decorrência de câncer no fígado, do ator Leonardo Machado (1976-2018), marido da diretora Ane Siderman e idealizador da trama. Como foi fazer parte de um projeto tão pessoal?
Foi uma oportunidade única. E me sinto muito abençoado por fazer parte deste projeto. Infelizmente não tive o prazer de conhecer o Leo pessoalmente, porém, o conheci através do carinho com que todos falavam dele. Muitos da equipe e a maioria dos atores tinham tido contato com o Leo, e a presença dele era sempre percebida. Mas principalmente a Ane, nossa diretora e sua viúva, fez essa história ser pessoal, não só para ela, mas para todos os envolvidos. Os personagens foram desenhados e cocriados por todos juntos. Foi um trabalho muito bacana e enriquecedor. Inclusive, houve tantas coincidências entre os atores e os personagens que até virou letra da música Coincidências e Sinais, que Eu Pude Perceber. Nosso poeta e músico Duca Duarte foi muito feliz quando compôs essa letra junto com a Ane. Tamanha dedicação da diretora me inspirou ainda mais. Aprendi a cavalgar, tocar guitarra, perdi seis quilos nos dois meses de preparo e até cantei. Foi um projeto marcante, de boas lembranças que vou levar para o resto da minha vida.
Tu tinhas 20 e poucos anos quando aconteceu o incêndio em Santa Maria. Já tinhas ido estudar nos Estados Unidos ou ainda estava no Brasil? O que lembras daqueles dias? Como o caso Kiss te marcou?
Eu ainda estava no Brasil quando aconteceu essa tragédia, e me lembro bem que tinha acordado havia pouco tempo quando as primeiras notícias chegaram. Foi um choque total! Não apenas pelo horror do acontecimento e das terríveis imagens que avam na TV, mas também porque eram jovens como eu, em uma noite comum de diversão. Tudo aconteceu apenas um dia após a minha festa de formatura. Eu ainda morava com meus pais, e ficamos vendo as notícias juntos. Os números simplesmente não paravam de subir, um pavor. Tudo me marcou, mas principalmente as imagens dos jovens deitados no chão, na frente da boate, enquanto os bombeiros e pessoas comuns tentavam ajudar como podiam. Essa tragédia deixou muitas marcas, muita dor e também ensinamentos. Hoje, sempre que saio, fico atento às portas de emergências, inclusive, em hotéis, quando chego no quarto já procuro a saída mais próxima. Isso virou uma preocupação que antes não tinha.
Outro recente trabalho teu é Distrito 666, uma distopia ambientada em 2042, quando um grupo de jovens descobre segredos do governo brasileiro em relação à pandemia. Pode falar sobre a experiência de fazer esse filme?
Nossa. Foi um desafio e tanto. Eu recebi o roteiro final deste projeto uns 10 dias antes do início das gravações, e filmamos em duas línguas, "Double Shooting", como Paulo Nascimento me disse. "Todos os atores gravam tanto em português quanto em inglês, só que tem uma coisa: para agilizar o processo, a cada mudança de posicionamento de câmera, tem que filmar ambas as versões". Então, eu tinha de ficar trocando os idiomas a cada mudança de plano, dava um nó no cérebro, haha. E esse não foi o único desafio. Por ser um trabalho filmado em plena pandemia, foi escrito de tal forma para que não houvesse muita interação presencial entre os atores. Por isso, além de decorar todas as falas em duas línguas, 90% de toda minha atuação foi para uma tela de computador.
Parece que histórias trágicas te perseguem, ou é tu que as persegue?
Eu acho que elas me perseguem. Mas também acho que as tragédias são mais lembradas, marcam mais a nós. São mais profundas e, normalmente, têm mais conteúdo sobre o qual se pode trabalhar em cima, criar, e eu gosto de imergir nos personagens que interpreto.
E o que mais vem pela frente? Na tua carreira, tem algum ator que seja um modelo, ou algum objetivo a longo prazo já traçado?
Além da série sobre a boate Kiss, no meio deste ano será lançada a segunda temporada de Chuteira Preta no Amazon Prime Video, na qual faço participação. E também já estou escalado para filmar um longa no final deste ano, uma história baseada em fatos reais sobre a ditadura chilena de 1973. Estou animadíssimo para este papel. Quanto a modelos, eu gosto de muitos atores, sempre tento me inspirar a cada boa atuação que vejo, mas acho que meu predileto seria o Leonardo DiCaprio.