Embarque no voo turbulento que "7500" oferece
Com paciência e delicadeza, o diretor Gaspar Antillo — vencedor do prêmio de realizador estreante no Festival de Tribeca, nos Estados Unidos — vai nos tornando íntimos de seu protagonista. Memo é um sonhador, que teve de sufocar mas nunca esqueceu o brilhante futuro que sua voz prometia. Memo é um solitário, mas que anseia pelo calor de uma plateia que imagina quando está se apresentando no meio das árvores.
Memo, como imagens estilo VHS mostram em flashbacks que pontuam a trama parcimoniosamente, foi um cantor mirim. Desses que tentam a sorte em programas como The Voice Kids. Mas episódios traumáticos — que cabem ao espectador descobrir — interromperam sua carreira. Já que não podia mais usar sua voz, Memo acabou se calando.
O conflito dramático se dá quando alguém, contrariando o título, descobre que Memo está lá. Aí, o corpanzil não é mais suficiente para represar sua mágoa. Afloram questões como a pressão que os pais exercem sobre os filhos — não raro depositários de esperanças ou desejos dos primeiros — e as regras do showbiz, em que a imagem pode pesar mais do que o talento. E para todo o sempre os versos da canção em inglês que Memo interpretou na infância (composta por Carlos Cabezas) serão uma tradução tão linda quanto lancinante da frustração, da solidão e da angústia: "Nobody knows I'm here / Yeah, yeah, yeah / Nobody is talking to me and / No one can set me free /Nobody knows I'm here / Yeah, yeah, yeah / Someday the stars over me / Will fill what I need to feel".