Beijar um homem na boca
O prazer de se irritar com uma idiotice qualquer
Por que ninguém mais bate a

De fato, o sistema tem suas distorções. Eventualmente, um candidato como Tiririca supera sozinho o quociente eleitoral e elege um, dois, três parlamentares na carona. Só que acabar com o quociente eleitoral por causa disso é como resolver uma infestação de cupins tacando fogo na casa. Bastaria criar uma cláusula específica para corrigir essa falha, mas em geral o quociente eleitoral é bom, é vital, é imprescindível para garantir ao parlamento uma diversidade que reproduza, ainda que minimamente, as saudáveis diferenças de uma sociedade plural.

Não é à toa que hoje chamamos as eleições para deputado e vereador de proporcionais – o objetivo é garantir certa proporção entre os diferentes setores da comunidade. Vou listar aqui seis perfis de candidatos. Veja o que o distritão faria com eles:

O ATIVISTA - Como suas bandeiras são muito específicas – vão do ambientalismo aos direitos de minorias –, raramente está entre os mais votados de um Estado. Conta com o apoio incansável de um nicho, mas dificilmente conseguiria se eleger sem a soma dos votos do seu partido, que garante cadeiras por meio do quociente eleitoral. O distritão, para o ativista, é uma tragédia.

O POLÍTICO DE OFÍCIO - Com três ou quatro mandatos, já tem boa estrutura e base eleitoral. Mas hoje ele pede votos na região do Estado em que é mais popular, enquanto outro candidato do seu partido se dedica à região ao lado – assim, a sigla ultraa o quociente e ambos se elegem. Com o distritão, o colega vira concorrente e precisa lhe tomar votos. O distritão, para ele, é razoável.

O OLIGARCA - Membro de família tradicional, às vezes proprietário de latifúndios e veículos de comunicação, já é um campeão de votos. Tem nas mãos o que há de melhor para se dar bem no distritão: dinheiro para campanha e capacidade de influenciar sozinho um batalhão de cabos eleitorais, inclusive prefeitos e vereadores. O distritão, para ele, é uma maravilha.

A CELEBRIDADE - Se o distritão for aprovado, os partidos pequenos – que não poderão mais se coligar com siglas maiores para tentar uma vaga pelo quociente eleitoral – devem lançar mão desta cartada como única chance de se manter no parlamento. Sem dinheiro para campanhas caras, a popularidade do famoso ganha força. Para a celebridade, o distritão é uma boa.

A NOVIDADE - Sem o quociente eleitoral, não vale a pena para partido nenhum lançar muitos candidatos – o negócio é se concentrar em poucos nomes, evitando que um concorrente tire votos do outro. Assim, é natural que as legendas apostem nos medalhões, nos bons de voto, fechando espaço para jovens e líderes em ascensão. O distritão, para a novidade, é péssimo.

O PASTOR - As igrejas pentecostais têm demonstrado poder de mobilização impressionante. Se orientarem seus fiéis a votar em um ou dois candidatos, a possibilidade de elegê-los em um sistema como o distritão é alta. A tendência é de que os evangélicos lancem menos candidatos, mas consigam emplacar boa parte deles. O distritão, para o pastor, é interessante.

Em resumo, descobri nas últimas semanas que amo esse pobre coitado chamado quociente eleitoral. Quem não gosta dele, por favor, que vá morar em Vanuatu.

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais

RBS BRAND STUDIO