Na hora, não consegui responder à pergunta dela, mas depois fiquei pensando: respeitar a maioria é obrigação, o que não quer dizer que a maioria esteja certa. As maiorias erram, e não há nada mais perigoso do que uma maioria errada. Não à toa, a própria democracia desenvolveu instrumentos para impedir que a vontade da maioria prevaleça em uma série de situações. A Constituição, por exemplo. Não interessa se no Brasil a maioria for favorável à pena de morte, à censura, à tortura de presos ou à discriminação. Nada disso pode, a Constituição proíbe e ponto.
Quem exerce essa vigilância é sempre a Suprema Corte: ela interpreta a Constituição e, eventualmente, contraria a maioria que o Congresso representa – ou a maioria que um presidente representa. Porque a democracia não é da maioria. Ela é de todos, inclusive das minorias. Quando a maioria decide qualquer coisa que ameaça, oprime ou cerceia uma minoria, essa maioria está errada. Porque a democracia, repito, ela também é das minorias.
Então, minha irmã, não se culpe por questionar os eleitores de Trump. Você tem razão em respeitar a vontade da maioria, até porque este é o acordo que temos: não há Constituição que proíba a maioria – ou a maioria dos delegados eleitorais, no caso dos Estados Unidos – de decidir quem será o presidente. Assim é o jogo, paciência. Mas, às vezes, quem está certo perde.