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Um pedreiro da periferia de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, transformou o seu carrinho de mão em berço para o filho recém-nascido – por falta de recursos para comprar o leito adequado.

– A gente limpou, colocou as cobertinhas e agora ele dorme lá. Antes, a gente dormia na mesma cama e levantava a toda hora com medo de machucá-lo – explicou o homem.

A mãe da criança contou ao jornalista que divulgou a notícia que seu marido até parou de carregar cimento no carrinho e foi trabalhar com reciclagem de lixo. Alguns leitores se comoveram com o episódio, mas outros aproveitaram para jogar as pedras de sempre:

– Se não podem, por que botar mais uma criança no mundo?

– Estão se fazendo de vítimas. Vão trabalhar.

Compaixão parece mesmo ser uma mercadoria rara nos tempos atuais.

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O que consola é saber que podemos ver a vida (e também a morte) com um olhar mais humano, compreensivo e respeitoso. Não gosto muito da palavra tolerância, pois denota superioridade de quem tolera. Prefiro empatia, colocar-se no lugar do outro. Aceitação e reciprocidade mudam o mundo. Gestos aparentemente insignificantes, como um cumprimento, um sorriso, uma visita, uma gentileza, uma escuta atenciosa, podem fazer toda a diferença no relacionamento. Como ensina o hermano Papa, o amor e a compaixão são mais fortes do que a morte.

Casamento no cemitério? Tudo bem, se os vivos se sentem confortáveis. Bebê dormindo em carrinho de mão? Compreensível para a situação, mas tudo mal. Toda criança merece um berço digno para os primeiros sonos da existência. Tenho certeza de que, apesar de um ou outro comentário mal-humorado, muito em breve o menino de Campo Grande receberá uma cama mais macia e adequada para os seus sonhos infantis.






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