• Em maio de 1941, registrou-se a maior enchente que assolou o Rio Grande. Em Porto Alegre, as águas atingiram a cota de 4m63cm, quando, em 1914, alcançaram apenas 3m60cm.
  • A causa principal desta cheia excepcional residiu na simultaneidade das grandes precipitações registradas em todas as bacias hidrográficas dos formadores do Guaíba. Mais calamitosa, entretanto, teria sido, se predominassem, nesse período, os ventos do sul, que represando as águas da Lagoa dos Patos, elevariam ainda mais o nível do estuário do Guaíba, aumentando a área alagada na capital sulina.
  • A solução do problema local, que consiste na defesa das cidades de maior população, como Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, avulta ante o quadro do problema geral. Enquanto, em Porto Alegre, se avalia o prejuízo em 300 mil contos, no amplo vale dos formadores do Guaíba estimam-se os danos causados à lavoura em cerca de 50 mil contos.
  • Em primeiro lugar, deverá proceder-se a defesa das cidades de Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, por meio de diques de contenção e aterro das áreas menores, que se alagaram durante a última cheia.
  • Em Porto Alegre, as obras contra as inundações serão iniciadas pela construção de diques que defenderão os bairros industriais Navegantes e São João.
  • As soluções gerais, que se devem examinar para resolver o problema dos valores que constituem as bacias hidrográficas interiores, resumem-se na execução de pequenas barragens nas cabeceiras dos rios, no reflorestamento sistemático das bacias fluviais, na construção de uma vasta rede de reservatórios compensadores e no endicamento (proteção por diques) das áreas de grande rendimento econômico ou alta densidade demográfica.
  • Enquanto não se ultima a defesa da região, deve criar-se desde já, para evitar os grandes prejuízos ocasionados pelas inundações, nos vales dos cursos d´água da bacia interior, um serviço de previsão de cheias, tão perfeita quanto possível.
  • Consequentemente, a economia da região deve organizar-se contando com a eventualidade das extravasões.
  • A abertura de grandes canais de comunicação entre o oceano e as lagoas dos Patos e Mirim, embora diminuindo a duração das cheias, não reduziria sensivelmente a sua amplitude.
  • A mesma conclusão aplica-se à derivação do Jacuí pelo canal de Santa Cruz e do Guaíba pelo canal de Itapuã, que visariam aumentar suas condições de vazão.
  • Não obstante seu custo elevadíssimo, só se poderá julgar, seguramente, da conveniência de execuções destes canais, após estudos mais completos.
  • Providências imediatas devem ser tomadas para a elevação dos leitos das entradas de ferro e rodovias nos trechos de cota baixa, a fim de evitar-se que as grandes cidades permaneçam sem comunicação com o interior, por vários dias, durante as enchentes.
  • Convém criar um núcleo de estudo e obras do DNOS, com sede em Porto Alegre, que se incumbirá de fiscalizar os trabalhos em andamento e de proceder aos diferentes estudos previstos em linhas gerais nas presentes conclusões.
  • A fim de dar imediato andamento aos serviços, será concedida no presente exercício a verba de cinco mil contos de réis, destinada à aquisição de aparelhamento e à construção de três mil metros de diques para proteger o parque industrial de Porto Alegre.
  • O pico da enchente de 1941 sempre gerou divergências. No relatório, o engenheiro cita a marca de 4m63cm. O nível consolidado historicamente é 4m76cm no Cais Mauá. 

    Nas décadas seguintes, em parte, as obras foram executadas. Porto Alegre teve áreas aterradas e a construção de diques e do Muro da Mauá. Em rios da bacia hidrográfica do Guaíba, como Jacuí e Antas, foram construídas barragens para usinas hidrelétricas. 

    Como o propósito desta coluna é o resgate histórico, não entrarei na análise dos motivos para a inundação devastadora de Porto Alegre e outras cidades gaúchas na enchente de maio de 2024. Como em 1941, é um tema que vai gerar muitos debates. Em GZH, especialistas já opinaram sobre as falhas do sistema de proteção de Porto Alegre.

    Como foi a enchente de 1941

    A chuva no Estado começou em 10 de abril, uma Quinta-Feira Santa. Por 35 dias, o Estado foi castigado pelos temporais. Em Porto Alegre, choveu em 22 dias neste período, acumulando 619,4 milímetros.

    Depois do caos no interior, os rios Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí encheram o Guaíba. Com 272 mil habitantes, Porto Alegre ficou com suas principais áreas comerciais e industriais embaixo d´água no início de maio, quando o vento Sul represou o Guaíba.

    Baseados na experiência de outra grande enchente, de 1928, muitos porto-alegrenses demoraram para se convencer da gravidade. Em 8 de maio de 1941, o nível do Guaíba atingiu a marca de 4,76 metros no Cais Mauá, onde a cota de inundação é de três metros.

    As consequências da enchente de 1941 foram sentidas por muito tempo. Em 1967, outra cheia do Guaíba deixaria partes da cidade embaixo d´água. Depois dos traumáticos episódios, Porto Alegre construiu o muro da Avenida Mauá e um sistema de diques.

    Na enchente de maio de 2024, a marca de 4m76cm foi superada no início da noite de 3 de maio. No madrugada de 5 de maio, foi registrada a maior marca da história do Guaíba no Cais Mauá: 5m35cm.

    Ouça podcast sobre a enchente de 1941, com o jornalista Rafael Guimaraens

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