"Diziam que eu iria sangrar até morrer", relembra angolano baleado em abordagem policial em Gravataí
"Diziam que eu iria sangrar até morrer", relembra angolano baleado em abordagem policial em Gravataí
  • "Há uma narrativa de culpabilização prévia do negro", diz advogado gaúcho sobre caso George Floyd e episódios de racismo

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  • Os sonhos se desfizeram em meio a 35 tiros. Gilberto foi baleado e preso. ou 12 dias na Penitenciária Estadual de Canoas. Também atingida pelos disparos, Dorilde está agora em estado gravíssimo na UTI. 

    Nenhum dos dois tinha qualquer razão para ser baleado, perseguido ou preso. O carro em que estavam era o alvo dos policiais. O motorista do aplicativo que os transportava era um foragido da polícia  por tentativa de feminicídio. Contou o repórter Carlos Rollsing, que ele chegou a furar um semáforo vermelho e, por isso, ou a ser perseguido por uma viatura do 17º Batalhão de Polícia Militar (BPM). Quando o motorista abandonou o carro, tentou fugir a pé, mas foi capturado.  

    Gilberto narrou ao Gaúcha Mais uma cena que causa calafrios em qualquer ser  com um pingo de humanidade. Disse que, sangrando no chão, gritou aos policiais dizendo ser inocente, mas ouviu em resposta, segundo seu relato, "você vai morrer", "exu do c******", "na cadeia todo mundo é inocente".  Continuou sem entender.

     - Me algemaram, deram chute na cara. E diziam que eu iria sangrar até morrer - contou. 

    Quando deixou o hospital, o angolano continuou a repetir que não possuía qualquer relação com o crime. Não adiantou. Foi levado à delegacia, para uma "cela imunda". "Se fazia tudo ali, as necessidades fisiológicas, comer e dormir", explicou.  Dali, foi parar no presídio. E quando o caso foi parar nos jornais narrou ter ganhado solidariedade até mesmo dos demais companheiros de cárcere, em cena que lembrou o filme  catalogado no Netflix Milagre na Cela 7. "O angolano é inocente", diziam.

    Depois de 12 dias, Gilberto enfim foi libertado, após um trabalho de sua advogada e da Associação dos Angolanos. Segue em estado de choque com o que aconteceu, mas tem recebido muitos apoios e, por isso, agradeceu ao povo gaúcho. A mulher que estava com ele, contudo, permanece em estado grave na UTI e não há sequer previsão de alta.

    Gilberto não teve o mesmo destino de George Floyd que chegou a gritar aos policiais americanos, com o pescoço esmagado no chão, que não conseguia respirar. Mas os casos se assemelham quando lembramos que o angolano não foi ouvido ao clamar, desesperado, por justiça, enquanto sangrava no chão. Algo de muito errado aconteceu nos dois casos e não é preciso muito esforço para entender de qual crime estamos falando. Vidas negras importam. 

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