• Por definição, os biocombustíveis são aqueles produzidos a partir de matérias-primas vegetais ou orgânicas, podendo substituir ou complementar o uso de combustíveis fósseis, como o petróleo. 
  • A maior motivação para seu uso é o potencial de reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
  • Atualmente, o etanol e o biodiesel são os principais biocombustíveis utilizados pela matriz brasileira, concentrando também a maior aposta da indústria que se volta a este segmento. 
  • Biogás, biomassa e biometanol são outros exemplos de produtos já desenvolvidos.
  • O etanol

    Fabricado a partir da cana-de-açúcar, do milho, ou de cereais como o trigo, o etanol é uma opção de substituição à gasolina, principal motor dos veículos leves. Foi a partir da primeira crise do petróleo, na década de 1970, que a sua produção ganhou maior importância. No Brasil, a criação do programa Pro-Álcool, nessa mesma época, foi uma das primeiras políticas a introduzir a produção do biocombustível em larga escala na matriz energética, incentivando, sobretudo, o etanol de cana-de-açúcar no país.

    No Rio Grande do Sul, a produção de etanol tem ganhado maior destaque nos últimos anos como alternativa rentável para as safras de inverno. O Estado não tem produção de cana, mas é solo fértil para as culturas do trigo, do sorgo, do triticale e da cevada, que permitem gerar etanol.

    Já são cinco projetos de usinas de etanol licenciados pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) no RS em vias de sair do papel. Liderando em iniciativas, a região norte do Estado caminha para ser referência na produção gaúcha. Três projetos ficam nessa porção geográfica: em o Fundo, Viadutos e Carazinho. Os demais estão em Júlio de Castilhos e Santiago, na região central.

    Diego Zanatta / Especial
    Biodiesel brasileiro somou 7,3 bilhões de litros em 2023.

    O biodiesel

    Mais recente na indústria, mas não menos relevante, o biodiesel é alternativa ao diesel, principal combustível utilizado por caminhões, ônibus e veículos pesados, bem como na geração de energia, com a alimentação de geradores. Suas principais matérias-primas são os óleos vegetais, extraídos de grãos como a soja, e as gorduras animais.

    Adicionado ao diesel, o biocombustível permite reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. A mistura atual, definida pelo Conselho de Política Energética, determina o uso de 12% de biodiesel em cada litro de óleo diesel. A partir de março, esse teor aumentará para 14%, e para 15% em março de 2025.

    A variação na mistura tem o objetivo de ampliar a produção brasileira e o uso dos combustíveis sustentáveis. O Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional do biocombustível, e concentra aqui empresas que colocam a fabricação brasileira na referência mundial. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de biodiesel, atrás de Estados Unidos e Indonésia.

    Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), cada ponto percentual a mais de mistura representa aumento de 650 milhões de litros no volume de produção. O teor maior deve demandar a produção de 8,9 bilhões de litros de biodiesel em 2024.

    Pioneirismo no RS

    Pioneira na produção de biodiesel há mais de quatro décadas, a gaúcha Oleoplan acompanha a evolução do mercado desde cedo. Inaugurou a primeira planta de produção do biocombustível no Rio Grande do Sul, em Veranópolis, na Serra, quando o teor de mistura ao diesel ainda era de 2%, logo que a lei tornou a adição obrigatória no país, em 2005.

    De lá para cá, cresceu e concentra cerca de 10% da fatia de mercado nacional de biocombustíveis. São três unidades fabris além da gaúcha, uma na Bahia, uma no Pará e outra em Rondônia.

    Oleplan / Divulgação
    Pioneira na produção gaúcha, Oleoplan mantém unidade de biocombustíveis em Veranópolis, na Serra.

    A produção se dá, principalmente, a partir do esmagamento de grãos de soja, mas já tem olhado para outras alternativas, como a palma. O Grupo Oleoplan tem capacidade de produção de 1,4 bilhão de litros de biodiesel por ano. Foram 715 milhões de litros produzidos em 2023, mais de 200 milhões deles produzidos no Rio Grande do Sul.

    Segundo a empresa, o desenvolvimento da cadeia do biodiesel nos últimos 20 anos no país permitiu acompanhar não só a evolução do compromisso com a pauta ambiental, mas também a agregação de valor para as cadeias agroindustriais. Utilizar os grãos e os cereais para gerar biocombustíveis fomenta não só a indústria, mas a produção agropecuária e a agricultura familiar. 

    O movimento de interligar os elos de maneira sustentável é também um dos pilares da pauta ESG, conforme Irineu Boff, fundador e atual presidente do conselho da Oleoplan. O compromisso com esses temas fez com que o grupo se posicionasse como empresa de energia renovável no seu planejamento de longo prazo.

    — A palavra preço sempre surge como preponderante. Mas, cada vez mais, a palavra preço vem sendo substituída pela palavra valor. Não basta comparar preço do diesel com o do biodiesel. O que está sendo incluído não é só a capacidade de virar motor, mas de gerar emprego, de verticalizar cadeias, de descarbonizar. Este é o valor do ESG — acrescenta Leonardo Zilio, diretor de relações institucionais da Oleoplan.

    Do RS para o mundo

    É também a partir do Rio Grande do Sul que a produção brasileira de biodiesel ganha o mundo. No mercado há quase duas décadas, a Be8 (antiga BSBios), com sede em o Fundo, lidera o mercado nacional do segmento e há 11 anos fez a sua primeira — e pioneira — exportação para a Europa. No ano ado, a companhia concluiu sua primeira remessa aos Estados Unidos, ampliando mercado.

    Além do biodiesel processado a partir da soja e outras gorduras, a empresa tem investido forte em projetos para a produção de etanol a partir de trigo e triticale. A ideia é que a sua unidade fabril seja flexível também a outras culturas como sorgo, milho e arroz. A nova usina, prevista para operar a partir de 2025, em o Fundo, deve produzir até 220 milhões de litros do combustível.

    Diego Zanatta / Especial
    Gaúcha Be8, com sede em o Fundo, lidera produção nacional de biodiesel.

    A diversidade de matérias-primas na fabricação de biocombustíveis, disponíveis em potência no Rio Grande do Sul, é destacada pelo fundador e presidente da Be8, Erasmo Battistella, como opção de manter rentabilidade durante o ano todo ao conciliar produção agropecuária e produção fabril:

    — Estamos encaixados no sistema produtivo do Estado, e isso é um benefício muito bom também para o agricultor, que pode ter comercialização 12 meses ao ano, já que as fábricas não param.

    Além das unidades locais, a empresa possui operações internacionais no Paraguai e na Suíça. Para Battistella, a produção dos combustíveis sustentáveis é oportunidade de desenvolver todas as frentes que conversem com o ESG: os compromissos ambientais, a inclusão social e a geração de emprego. Mas também de ser ível em um momento de mudanças.

    — O fato é que, além de todas as externalidades positivas de poluir menos, de gerar mais emprego e renda, de ser uma produção local, de beneficiar a agricultura, ou seja, de ser um combustível ESG, nós também somos competitivos. Muitas vezes o biodiesel e o etanol são mais baratos que o diesel e a gasolina, e isso é excelente, porque também queremos que a transição energética tenha impacto zero em preço e em inflação — diz o empresário.

    ESG na prática, o que é

    Em março, GZH publica uma série de reportagens sobre práticas ESG. A próxima reportagem, a ser publicada no dia 8 de março, irá abordar o tema das energias renováveis. Em seguida, o tema será a pecuária sustentável no bioma Pampa. 

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