No mesmo sentido, Jaime Federici Gomes, professor de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), afirma que o Guaíba tem características de escoamento bidimensionais, semelhante a lagos – portanto, considera que a melhor definição é que ele é um lago.
Os gestores têm de ter responsabilidade e respeitar a ciência
ELÍRIO TOLDO JR.
Professor do Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica (Ceco) e do Instituto de Geociências (Igeo) da UFRGS
O professor Elírio Toldo Jr., do Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica (Ceco) e do Instituto de Geociências (Igeo) da UFRGS, sublinha que o Guaíba é um rio. Para ele, a maneira como o Estado e o município classificam a natureza do Guaíba é feita sem fundamentação científica e medições hidrodinâmicas que indiquem um padrão de circulação lacustre. Além da natureza, o nome – uma questão cultural e histórica – foi alterado para Lago Guaíba sem consulta popular. Poderia, entretanto, diferir (por exemplo, Rio Guaíba, como é conhecido), independentemente de ser um estuário, um rio ou um lago, como no caso da Lagoa/Laguna dos Patos.
A Bacia Hidrográfica do Guaíba tem 84 mil quilômetros quadrados. Ela começa nas nascentes dos rios Jacuí, Taquari, Sinos, Gravataí e Caí, que convergem para a região do Guaíba, parte final desse sistema. Para o professor, a classificação do corpo d’água é fundamental: é uma maneira de induzir o gestor público a trabalhar com o assunto, o que afeta a questão da proteção das margens. Se há uma visão limitada a um conceito errado, a gestão da bacia e do Guaíba também estará errada.
Em sua análise, a bacia está sendo mal conduzida, e os desdobramentos da atual inundação são a prova disso – a ausência de gestão leva às consequências vistas, sustenta.
— Os gestores têm de ter responsabilidade e respeitar a ciência — destaca Toldo Jr, destacando que, para isso, é preciso ter dados numéricos medidos em campo, e não é "uma interpretação de gabinete".
Professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, Walter Collischonn afirma que o Guaíba apresenta características diferentes em regiões distintas da sua formação.
O professor explica que houve a tendência a chamar o Guaíba de lago em função de outras características menos importantes para a navegação, como o tipo de sedimentos e de vegetação nas suas margens. Collischonn avalia que a tendência se deve a um certo afastamento das pessoas do Guaíba, já que a navegação se tornou menos importante com o ar dos anos.
Para o especialista, talvez seja melhor chamar o corpo d’água localizado junto à cidade de Porto Alegre "simplesmente de Guaíba". Os povos falantes de tupi sabiam, "mais do que nós", interpretar as características da paisagem e criaram um nome específico para este tipo de corpo d’água: Guahybe – o lugar em que o rio, subitamente, se tornava largo, formando uma enseada ou baía. Para o professor, é a língua portuguesa que parece ser limitada para abranger esse conhecimento. Igualmente limitada, em sua opinião, é a lei sobre APPs, pois obriga a classificação como rio ou lago, mesmo quando não é exatamente um ou outro. Quando é obrigado a designá-lo, Collischonn prefere chamá-lo de rio.
A prefeitura de Porto Alegre também afirma que o Guaíba exibe um comportamento dual: é um corpo d’água singular, que combina características tanto de rio quanto de lago. "Isso se deve ao fato de que, em suas margens, ele apresenta características de um lago, com vegetação e profundidade típicas desse tipo de corpo d'água, enquanto em seu centro, há um canal mais profundo com correnteza, lembrando as características de um rio", afirma a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), em nota.